sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

EGUN E EGUNGUN.

Não se pode confundir Egun e Egungun. Eguns são todos os espíritos de pessoas falecidas. Egunguns são espíritos de sacerdotes e sacerdotisas falecidos, ou seja, pessoas que foram iniciadas no ritual do Orixá ou no próprio ritual de Egungun.
Enquanto no âmbito dos Eguns, existem obsessores, e até mesmo demônios, que viveram e que não viveram, os Egunguns são espíritos antepassados que cuidam em dar continuidade à cultura e às tradições étnicas e tribais, para que seus sucessores (os vivos) tenham a melhor condição de vida possível. Egungun não aceita a mentira e a depravação e tão pouco a corrupção dos costumes e da ritualística. Por esta razão, pouquíssimas são as “casas” de candomblé de Egungun no Brasil, estando restritas à Ilha de Itaparica, na Bahia, em locais conhecidos por “Amoreira” e “Barro Vermelho”. No final do século XX e agora no século XXI, algumas tentativas de espalhar o ritual já foram feitas. Algumas com sucesso, outras não. Há que se ressaltar a homenagem ao grande Alagbá Aliba (Eduardo Daniel de Paula) na condução do ritual de Egun em Amoreira. Também destaque para Didi (Deoscoredes dos Santos), o Alapini de Itaparica, no seu trabalho de sucessão do falecido Aliba. Apenas para demonstrar o poder do ritual de Egungun e seus sacerdotes, destacamos da lista de Egungun acima o Babá Bambuxé Adinimodó, que em 1660 foi sumo sacerdote do Quilombo dos Palmares, em Alagoas, e encarregado pelo destino (Odú) de preservar, no Brasil, através dos ensinamentos, a raiz das tradições das diversas tribos africanas, para cá trazidas durante o nefasto tráfico de escravos. Bambuxé foi a alma , o espírito, o corpo e a mente estratégica e espiritual de Palmares, tendo como assessor o Tata Kaundê e juntos deram muito trabalho às investidas dos soldados e comandantes brancos em embates contra as tropas de Palmares. Não teríamos esta relação e este conhecimento, não fossem os ensinamentos místicos que Bambuxê nos legou através dos diversos discípulos que consagrou.
Em nossa visita e vivência em Lagos, na Nigéria, fomos franquiados a constatar e assistir alguns rituais de Egungun, realizadas em pleno dia em praça pública, presenciando as materializações de vários Babás e com eles tivemos a oportunidade de conversar, e trocando idéias, concluímos que eles amam os seus descendentes no Brasil, hoje negros, mulatos, mestiços e brancos. E conforme nos falou Babá Olobogjô e Babá Alapalá não tínhamos ido à África para “catarmos axés” e sim buscar os nossos fundamentos e conhecermos os nossos ancestrais de mais de quatrocentos anos. Para tanto, nos deram roupas, comida e habitação, além de todo conhecimento possível. Com todo orgulho, portanto, criamos esta página em homenagem àqueles que nos possibilitaram existir geneticamente, mantendo o conhecimento da ancestralidade, que nos mantém VIVOS.

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